Webmail
E-mail:
Senha:
Siga-nos
Redes sociais
Fone: (55)3233 1796
Plantão: 99986 3660
Untitled Document
Existe mesmo uma transformação digital?

Tenho trabalhado em assuntos relacionados à capacidade tecnológica nos últimos 48 anos. Neste período, assisti a diversas mudanças

Existe mesmo uma transformação digital?

Não passa um dia sequer sem que eu ouça ou leia alguém falando sobre transformação digital. Nesta semana, recebi uma revista especializada que trazia em sua capa a chamada: “Jornada para a Corporação Digital”. De todas as palavras da moda, uma nos levaria a crer que estaríamos iniciando um período nunca visto antes, um tempo que deixaria todos os demais para trás em escopo e benefícios.

Mas o dicionário diz que transformar alguma coisa implica em mudar um formato externo ou mesmo a natureza, a função. Em outras palavras, transformar é mudar radicalmente. O que de fato a tecnologia digital está transformando? São as pessoas? A maneira como elas trabalham? As organizações? Ou, ainda, a sociedade como um todo? E essas transformações são boas ou ruins? Neste artigo, meu argumento é de que o período atual, longe de ser transformador, meramente amplia as capacidades tecnológicas em um movimento iniciado décadas atrás, e ainda que isso traga benefícios, não vejo nada grandioso na história da computação ainda que haja uma pressão para que acreditemos nisso.
Tenho trabalho em assuntos relacionados à capacidade tecnológica nos últimos 48 anos. Neste período, assisti a diversas mudanças. Se eu acreditasse em todas as modas contemporâneas, elas perderiam o brilho na comparação de tudo que vi até agora. 
Entrei na IBM como vendedor em 1966. O mainframe IBM 360 tinha sido anunciado em 1964 e iniciávamos os primeiros embarques naquele momento. Naqueles anos, poucas pessoas sabiam o que era um computador, muito menos o que eles poderiam fazer por uma corporação. Vendi computadores para empresas de transportes e as instruí em como elas poderiam utilizar a computação para automatizar partes dos seus negócios. Isso teve muito êxito e revolucionou a forma como empresas de transportes gerenciavam seus negócios. Vimos, por exemplo, a introdução do sistema de reserva das empresas aéreas, mas nunca nos referimos a isso como algo transformador. Eu não mudei a natureza do que eles faziam, já que continuavam movendo bens e serviços.
Leia também:


Em 1977, fui chamado para integrar uma pequena empresa de computadores chamada Digital Equipment Corporation (DEC). A visão do fundador, Ken Olsen, era a de trazer a computação para mais perto do usuário. Assim, a DEC estabeleceu outro marco na história dos computadores – nomeando, foi o advento da computação distribuída. Tratou-se de uma grande mudança, já que tirou a empresa do centro do universo computacional e colocou as pessoas nesse lugar. De novo, não anunciamos isso na época como transformador, já que não mudamos a natureza das pessoas.
Nos anos 80, o grande salto na história da computação foi trazer o cliente/servidor para o mercado. Isso foi uma grande mudança porque, pela primeira vez desde a economia agrícola, fomos capazes de colocar pessoa, trabalho e tecnologia juntos novamente. Essa lógica foi representada pelo poder do desktop e pelo poder de decisão dado ao usuário. Nós não chamamos isso de transformador naquela época, mas foi uma grande mudança na cadeia de valor da computação.
Já na década de 90, vimos a introdução da internet. Ela foi descrita de diversas maneiras e sua influência sob pessoas, organizações e sociedade nunca foi questionada. Naqueles anos, liderei um painel de discussões num fórum de CEOs organizado pelo World Economic Development Congress e disse aos líderes presentes que a internet reduzia o tempo de aprendizado. Pessoas e organizações poderiam agora aprender mais rapidamente. Esse era o grande benefício num momento em que estrategistas diziam que a única vantagem competitiva era aprender mais rápido que seus competidores. 
O início do terceiro milênio cresceu sobre a pecha da economia digital. As pessoas agora falam sobre tecnologias como computação em nuvemmobilidaderedes sociais e analytics, liderando essa nova economia. Essas tecnologias e a internet das coisas, que escutamos muito, são transformadoras. 
Eu argumentaria que as mudanças que estamos vendo não são transformadoras, mas evolucionárias por natureza. Em outro artigo, falei que nuvem, redes sociais e mobilidade não são novas tecnologias. Na realidade, elas foram originadas décadas atrás. O que estamos presenciando atualmente são extensões daquelas tecnologias e um empoderamento individual ainda maior.
Em 1990, escrevi um artigo para a Sloan Management Review onde descrevi a destruição de uma sociedade pela tecnologia. Ainda que as mudanças que assistimos atualmente fossem transformadoras, precisamos ser cautelosos e avaliarmos se elas estão transformando pessoas, organizações e a própria sociedade para melhor. Eu não tenho certeza se este é o caso. Como alguns cientistas sociais têm argumentado, mais tecnologia e mais dados não necessariamente são bons para sociedade e para as pessoas. 
Alguns devem pensar que meus principais argumentos estão de acordo com o uso da palavra transformação. Mas deixe eu sumarizar minhas argumentações:
Precisamos parar incondicionalmente de superestimar as tecnologias digitais. Existem alguns benefícios, é óbvio, mas eles não são para todos. Também precisamos fazer um trabalho melhor ao definir economia digital,transformação digital, empresa digital e palavras relacionadas. E, juntamente com isso, temos que definir o que realmente é importante nesse grupo de tecnologias digitais.
Comparado a tudo que vimos ao longo da história computacional, eu não chamaria as mudanças atuais de transformadoras. Na verdade, eu as consideraria algo menor em comparação ao que já vivi.
Eu ainda não estou convencido de que as mudanças atuais são em sua maioria boas. Eu temo a desumanização da nossa sociedade. Nossa obsessão por um streaming constante de dados está erodindo nossas habilidades de reflexão, contemplação e introspecção e nos coloca num mundo virtual, isolado daqueles que amamos.
Acredito que conforme envelhecemos existe o perigo de aceitarmos menos as mudanças; gostamos das coisas mais devagar ou que permaneçam iguais por um tempo. Existe também, é claro, a possibilidade de que, com mais idade, desenvolvamos a capacidade de enxergar tudo o que nos precedeu e fazermos um julgamento mais adequado de como os eventos contemporâneos se encaixam ou se encaixarão. Existe uma crença comum de que a tecnologia lidera mudanças na sociedade. Não tão bem entendido está o poder da sociedade de aceitar as mudanças tecnológicas. 




Rua Antão Faria, 1010
Fone: (55) 3233-1796/3515
Plantão: 99986-3660
São Sepé-RS CEP: 97340-000
PlugNet - Internet Banda Larga em São Sepé - RS